29.8.11

metades



metade da lua
metade do sol
metade da vida
metade do mal
metade da sorte
metade do sal
metade de açúcar
em amor carnal
metade de um livro
e a sombra da cal
metade da carta
extraconjugal
trazendo um adeus
antinatural

metade sorrindo
metade sofrendo
com ar estupendo
sem dar um sinal
metade caindo
em buraco negro
dum bolso pequeno
com fundo abissal
metade partindo
metade chegando
metade mentindo
com ar natural
metade jogando
com olhos fechados
metade escrevendo
poemas falhados
metade arrasando
barreiras sem conta
metade engolindo
animais de monta
metade morrendo
metade restando
todos esperando
decisão final

20.8.11

proporcionalmente à saudade


proporcionalmente à saudade
a distância cresce
deixando-nos perdidos num oceano metálico
onde as lágrimas caem
como rufar de saltos
em passos de mulher

proporcionalmente à saudade
o meu corpo se esquece
de sentir o sol
permanece na sombra dos teus dedos
que desenham na parede branca da alma
pássaros de fogo difíceis de apagar

navegando
proporcionalmente à saudade
deixo o teu vento levar-me
deixo o teu perfume matar-me
mesmo que seja por um tempo
pequeno
que vem contar-me
onde provavelmente estarás…