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4.6.09

canção de ondular

foto: Joana Martins (www.olhares.com)

meu mar da noite, sossega agora
e adormece, sob o luar
daqui a pouco, na tua pele,
vais ter o sol do meu beijar

e se sentires, ondu(lamento),
quase por perto
quase a chegar
ordena à noite
um negro lento
e um sereno, doce ondular…

31.5.09

asas do coração (voo III)

(escultura: Maria Leal da Costa)

Asas que voam e se fundem
dentro de um coração,
são por certo um sofrimento
que não sai do pensamento
e nos leva à solidão

29.5.09

voo pousado (voo I)

(escultura: Maria Leal da Costa)

Também o voo pousado
nos faz mudar de lugar
leva-nos ao mundo sagrado
que algures está guardado
para nos fazer sonhar…

22.5.09

brinquedos na bagagem

As palavras invadem constantemente
o espaço que habito.
Instalam-se por aqui, sorrateiramente,
aproveitando fraquezas,
há muito transformadas em mito.
Usam ardilmente a ocasião,
pulverizam com tristezas
o ar que as acolhe com bondade,
mas pelo peso (lei da gravidade),
acabam espalhadas pelo chão.
Uns dias tropeço nelas, outros não.

Tomam formatos estranhos,
povoam cantos parados,
encarnam alguns objectos,
importantes, mas pouco usados.
Por vezes são sons e cheiros
que perfumam meus sentidos,
trazendo sinais inteiros,
ou partes de tempos idos.

São livros empoeirados,
são bilhetes de cinemas,
são fragmentos de temas,
um dia abandonados.
São caixas cheias de tralhas,
algumas contêm gralhas
e acidentes da vida.
Quando as abro, voam sonhos,
pousam na alma vazia,
compondo, em aparência,
uma séria sinfonia.
Uns dias são sonhos negros,
de movimento medonho,
outros dias, muito "allegros",
de som solene e risonho.

Num lugar especial,
estão as saudades VOSSAS,
abraçadas entre si.
Recordam mil coisas nossas;
são sorrisos em papel,
são memórias imprimidas
e experiências vividas,
permanentes e aqui.
São brinquedos que transporto,
sempre na minha bagagem,
são bocadinhos de ti,
que levo p'ra cada porto,
quando ando de viagem.

3.5.09

vontade de ser mãe


Apareceu, eu asseguro,
como vontade de Verão.
Começou a despontar,
como grilo a despertar
e entrou no coração.

Aparecia de surpresa
era vontade ensonada,
algo que a mantinha presa,
ficando assim plantada
no meio daquela incerteza.

Depois tornou-se diferente,
a vontade já vivia,
dentro da sua existência.
Acordava, adormecia,
brincava, pontapeava,
no oposto do regaço;
e ria, muito se ria,
quando ela se encolhia
no meio da noite fria
procurando um abraço.

Era algo que crescia
em todo o corpo se via.
Vontade concretizada,
daquelas que mulher tem.
Seus olhos sempre brilhavam
quando ouvia siderada
que a vontade que hoje tinha
era aquela de ser mãe…

26.4.09

tua ausência

Hoje a tua ausência, instalou-se em mim.
Sentou-se na minha alma, e descarada,
ficou a ouvir bater meu coração.
Libertou-me no entanto da corrente,
que se instalara na minha mente
e me prendia à solidão.
Contou-me histórias de fascinar,
levou-me para outra dimensão…
Sorrindo, pôs-me a sonhar.
Depois, quase a reinar
assistiu à minha incontida emoção.

Murmurou coisas difíceis de entender,
disse versos acabados de fazer,
e ainda agora, ao escrever,
sinto-a por dentro, a remexer.
Sinto-a presente, faz-me tremer…

Com tanta inquietação, não vou dormir!
não vou parar de a sentir
provavelmente vou-lhe cantar
uma canção de embalar.
E quando ela serenar,
vou-te pedir, mesmo rogar,
que amanhã, se deres licença,
quero antes ter, tua presença,
para com ela, me sossegar…

19.4.09

sorriso encontrado

O meu sorriso sorrindo,
partiu correndo, e foi ver
se te encontrava a sorrir,
se te encontrava a sofrer…
Entrou sem tu teres sentido,
pisou teu lugar preferido,
sentiu desejo perdido,
viu sinais do teu viver.

Leu um poema esquecido,
pousado na cabeceira;
tropeçou na brincadeira
que encontrou pelo chão;
percebeu o lado triste
que trazes no coração.

Tentando que tu repares,
lança um sopro ondulante
sobre chama de canela,
que com um gesto dançante,
insinua-se arrogante,
mantendo-se de sentinela.
Gosta de se ver a arder!
Com piromaníaco prazer,
acelera o derreter,
consome-se em curto instante.
E tu, um pouco distante,
resolves fechar a janela
como se pudesse ser ela
a causa daquele mexer.

Só teu sorriso notou
que o meu queria notar-se
sorrindo por ti, docemente,
decidiu aproximar-se.
A medo lá esboçou
um sorriso grande, evidente,
mostrando que acredita
poder sorrir novamente.

12.4.09

mulher real, fundida em sonho


Bateste na janela do meu quarto,
despertando o meu adormecer,
sem ruído, sem medo e ao de leve
anunciaste que serias muito breve,
mas vinhas com vontade de te perder…

Pairavas serenamente e quase nua,
envolvida por ténue luz de lua,
que te beijava ao som do seu brilhar.
No pescoço, orgulhosamente tinhas,
fios de luz pendente e em linhas
tecidas com belas cores de enfeitiçar.

Entraste deslizando calmamente,
tocaste nos lençóis frios da cama,
senti a tua pele ardendo em chama,
deixando um rasto lânguido e quente.

Por seres mulher real, fundida em sonho,
que invade ousadamente o meu lugar,
não posso esboçar um só lamento
não posso partilhar o pensamento,
deste desejo em mim, de te abraçar…

11.4.09

a besta

(http://www.24heures.ch/galeries/funerailles-nationales-victimes-seisme)


Tremeu a terra e não devia,
surgiu com ordem para matar,
usou em ti tal violência,
levou-te logo sem avisar.

Fendas abertas, durante a noite,
fizeram negro o teu luar,
traíram cedo, tua inocência,
roubaram céleres o teu sonhar.

Matou-te o monstro, cobardemente,
tirou por querer teu respirar,
tu ripostaste, heroicamente:
a besta não te ouviu chorar…


“Impressiona ver 205 caixões alinhados uns ao lado dos outros. Impressiona ainda mais ver os pequenos caixões brancos, com corpos de crianças, colocados em cima das urnas dos seus familiares. António, a vítima mais nova entre os que perderam a vida para o sismo, faria hoje cinco meses. Os caixões, colocados em frente ao altar, foram rodeados de flores, mensagens e brinquedos, em memória de uma alegria para sempre desaparecida. „
o anjo de Aquila

8.4.09

flor re-inventada


À espera de um sinal,
de uma estrela cadente,
de um anúncio de jornal,
de um toque diferente,
de um sussurrar ao ouvido,
de um beijo escondido,
com sabor doce a jasmim,
que me fez sentir perdido,
por senti-lo só p’ra mim.

À espera de um sinal,
de um poema perdido,
de um livro ancestral,
do meu doce preferido,
de uma escolha acertada,
de uma história encantada,
que um dia escrevi,
sobre uma flor inventada
hoje colhida p’ra ti… 


5.4.09

rio que corre indiferente


O rio corre indiferente,
a quem passa pelo rio.
Eu, parado, te observo,
te adivinho doce e frio,
como o gelo que navega,
passeando devagar,
indiferente ao olhar.

Quantos segredos tu levas?
Quantas tristezas se prendem,
nos escolhos destas margens?
Quantos amores vão perdidos,
entre estes ramos partidos,
que trazes de longes paragens?

Eu, parado, te observo,
Acho mesmo que te invejo,
por não saber o que vejo,
no rio do meu desejo,
nesta vontade tremida,
sem destino e sem jeito,
que parece alma perdida,
à procura do seu leito.

Tu segues sempre indiferente,
não ligas a essa gente,
que pr’a ti corre a chorar.
Tens um encontro marcado,
nunca, jamais foi falhado,
com o teu amigo, o mar.

Ele mexe-se agitado,
ameaça o pescador,
que teima sempre em passar.
Transpira suor salgado,
funde-se em céu apagado
desta noite sem luar…
Com vontades ansiosas,
conta as ondas temerosas
que faltam p’ra te abraçar…

3.4.09

roubei-te uma flor

Hoje roubei uma flor
que tu tinhas à janela,
julgando que assim ficava,
com o amor que tens por ela.

Senti-me dono do mundo,
sonhei com a Primavera,
fiz um jardim no meu peito,
pus minh'alma, à tua espera.

Hoje roubei uma flor,
abracei-a com carinho,
ela sorriu para mim,
e disse-me assim, baixinho:

hoje roubaste uma flor,
e cometeste um pecado,
deixaste longe de ti
coração despedaçado.

Corri para o meu amor,
que chorava amargurado,
beijei-o ao de leve na face,
e cantei assim este fado:

hoje roubei-te esta flor,
e amei-te no jardim,
que construí no meu peito,
escondido, só para mim.

Hoje roubei-te esta flor,
que tu tinhas à janela,
julgando que assim ficava
com o amor que tens por ela.

(fado para ti, também...)

1.4.09

fragmentos de ti

Hoje procurei um sinal teu.
Hoje o meu perfume mudou de cor,
por não sentir o teu amor.
A luz do dia, essa mesmo, infalível e soberana,
desapareceu.
Justificou-se depois, com dor:
tinha falta do teu calor.

Hoje não ouvi sons que me fizessem:
- matar saudades de ti;
- imaginar coisas que antes vi;
- lembrar poemas que já li.
Hoje, simplesmente,
não te tive aqui.

Hoje as tuas mãos foram fantasmas.
Os teus sinais foram borrões,
inundando a alma de saudade.
Hoje o teu corpo passou por mim,
devagar,
a sonhar,
a pairar,
como um fragmento,
que ao sabor do vento,
me leva o pensamento,
p'ra junto de ti.

28.3.09

tempo

Tempo passa,
sem dar conta,
se escoa, grão a grão,
lembrando-me uma ampulheta,
que estrangula o coração.

Ano a ano, passo a passo,
o tempo anda "enloucado",
deixando marcas à toa,
no corpo já massacrado.
Tempo esquece, tempo voa,
o tempo faz-me cansado.

O tempo com um rugido,
devora plano estudado,
cospe no sonho agendado,
que me mantém acordado...
A vida perde sentido!

Tempo engana, troca voltas,
distraído, também mente.
Acordando de repente,
tenho então a certeza
(não sentindo estranheza),
que o tempo já não existe,
me abandona, desiste,
parte com leve destreza.

Pelo encurtar dos passos,
Vem-me então à consciência,
que o mundo fala em falência,
o tempo perde cadência,

“morrendo-me” assim nos braços.

26.3.09

saudade quase perdida


Cansado de correrias,
tarde o Fado adormeceu,
quando por fim encontrou,
quem por pouco ele perdeu.

Toda a noite ele a sentiu.
Ouviu um gemido na esquina,
cheirou-lhe o perfume, por perto,
correu ao encontro da sombra,
provou o sabor duma sina.

Chorou por toda a cidade,
gritou bem alto por ela,
quando por ilusão ou desejo,
viu-a sorrir, à janela.

Voou para ela, abraçou-a,
contou-lhe o segredo do Fado.
a Saudade acreditou,
beijou-o ao de leve na alma
e adormeceu a seu lado.


(poema escrito para uma talentosa fadista que me ensinou a gostar de fado...)

24.3.09

se tu fosses...


Se tu fosses uma estrela,
serias por certo a primeira,
roubava um pedaço de céu,
para estar à tua beira.

Se tu fosses uma flor,
de um jardim virtual,
“linkava-te” à Primavera
para pareceres mais real.

Se tu fosses um perfume,
com cheiro quente a canela,
trazia-te sempre comigo,
espetada na lapela.

Quando eu entrar no teu céu
e apanhar uma estrela,
vou oferecer-te uma flor,
pintada de mil e uma cor,
com perfume de canela.

17.3.09

imagino-te


Imagino-te sofrendo…
Garras do monstro
que te arranha por dentro.
Noites sem luz, varridas pelo vento.
Vozes que gemem em compasso lento,
lágrimas que escorrem em longo lamento.

Imagino-te sofrendo,
com lábios cerrados
que esmagam revoltas.
Com palavras cortadas, comidas pela dor,
a vontade apagada por vitória sem cor,
a alma queimada por um forte ardor.

Imagino-te lutando…
Moinhos de vento,
Quixote da Mancha,
cavaleiro louco que te rouba a vida.
Milagre rezado em prece sofrida,
a Vida parada em esperança contida

Não vás já embora,
espera por mim.
Não vás já agora,
que a vida é assim…
Sem dares um sinal,
se teimas partir,
vou já ter contigo,
quero
te seguir…
(para o meu amigo HP)

13.3.09

escrevo só


Escrevo só, para mim,
pensamentos e ideias.
Pinto sonhos em papel,
teço-os com minhas teias,
chego à Torre de Babel.

Escrevo, só para mim,
Palavra após palavra.
Numa insónia viciada,
prolongo a minha lavra
pela noite assim parada.

Neste poema sofrido,
Risco, corrijo, apago…
Estrofes já esquecidas,
rimas que foram perdidas,
um verso que já tinha lido.

Com sentidos em alerta,
Sinto, lembro, quase afago…
Tua pele doce e sedosa,
teus seios em tons de rosa,
teu beijo que me liberta… 


15.2.09

tanto mar para chorar...

Tantas coisas por fazer,
tanto carinho por dar,
tantos sinais por dizer,
tanto tempo por sonhar.
Tantos dias por sorrir,
sonhos por conquistar,
uma vida a colorir,
tanto amor para te dar...

De repente e sem contar,
tantas tristezas sofridas.
Tantas luzes apagadas.
Tantas certezas perdidas.
Tantas gavetas fechadas.
Tantas promessas esquecidas.

De repente e sem contar,
tanto mar para chorar...

vazio

Vazio,
construção imaginada e transparente,
que ocupa espaço e sufoca.
Matéria etérea que vagueia entre
os dedos da saudade
e o corpo do desejo.
Coisa nenhuma que enche a alma,
devora o sorriso e
passeia-se pelo espaço onde ontem
tu estavas.
Vazio,
o copo que habitualmente se enche pela manhã,
o som dos teus passos pela casa,
o cheiro do lençol onde adormeces…
Vazio,
é o nome do monstro que me mata.