20.2.09

procuro-te

Procuro-te,
na neve fria
que hoje cai bem devagar
beijando a noite sombria,
gelando o meu respirar.

Procuro-te,
nestas palavras
que junto como jograis,
indecifráveis lembranças
que avivam os teus sinais.

Procuro-te,
neste perfume
de quem passa sem olhar
de quem não conhece o sabor
do beijo que tens p’ra me dar.

Na beleza do teu corpo,
na doçura do olhar,
no cheiro de magnólia
que imaginei respirar.
No apertar de um abraço
no som de um caminhar
nos passos marcados na rua,
eu procuro o teu andar

Procuro-te para te ver,
procuro-te para te ter,
procuro-te para te ler,
palavras que hoje senti
e um poema que escrevi,
quando procurei por ti.

15.2.09

tanto mar para chorar...

Tantas coisas por fazer,
tanto carinho por dar,
tantos sinais por dizer,
tanto tempo por sonhar.
Tantos dias por sorrir,
sonhos por conquistar,
uma vida a colorir,
tanto amor para te dar...

De repente e sem contar,
tantas tristezas sofridas.
Tantas luzes apagadas.
Tantas certezas perdidas.
Tantas gavetas fechadas.
Tantas promessas esquecidas.

De repente e sem contar,
tanto mar para chorar...

vazio

Vazio,
construção imaginada e transparente,
que ocupa espaço e sufoca.
Matéria etérea que vagueia entre
os dedos da saudade
e o corpo do desejo.
Coisa nenhuma que enche a alma,
devora o sorriso e
passeia-se pelo espaço onde ontem
tu estavas.
Vazio,
o copo que habitualmente se enche pela manhã,
o som dos teus passos pela casa,
o cheiro do lençol onde adormeces…
Vazio,
é o nome do monstro que me mata.

oração


Reza por mim
porque não sou capaz.
Pede por mim,
porque não tenho paz.
Olha p’ra mim
devagarinho.
Cuida de mim,
dá-me carinho.
Vem para mim,
vem de mansinho.

ontem

Ontem a noite ficou às escuras
procurei luz, cometas, estrelas brilhantes
mas em vão...
Ontem só as memórias iluminaram
levemente o meu coração.
Ontem fiquei sozinho
na multidão
vasculhei gavetas de inteligência
encontrei sinais na consciência
senti saudades da tua diferença.
Ontem, em vão,
procurei as linhas da tua mão.
Ontem, em vão,
pedi para sentir o teu coração.
Ontem não!

11.2.09

barbas

Com Barbas,
ganhava respeito!
Com Barbas,
escondia a tristeza
que não sabendo porquê,
não lhe abandonava o peito.

Com Barbas,
desceu à rua,
correu a cidade vazia,
tingida por uma luz fria,
que dificilmente se via
mas punha-lhe a alma nua.

Com medo apressou o passo.
As Barbas caíram ao chão…

Iluminada a calçada,
por luz lançada do céu,
o Homem, ajoelhado,
encontrara o que perdeu.
Junto às barbas, amarrotado
um pedaço de jornal,
com letras bem recortadas,
lembrava que era Natal

natal

Natal…
É sempre em Dezembro?
Natal…
Somente um por ano?
Ou será um puro engano,
onde sem querer eu caí?

Será sinal de Natal,
quando me lembro de ti?
Quando sem sair daqui,
fujo para parte incerta,
procuro uma ilha deserta,
e te envio um postal?

Para mim, não é Natal!
A data pouco me interessa.
Hoje acordei bem depressa,
para escrever uma prenda,
ir ao encontro da lenda,
e te dar este sinal.

8.2.09

segredo

Hoje morreu o meu segredo,
Quando sem querer descobri,
Quem pode enfim encontrar,
Aquilo que um dia perdi.

Parti, fugi, enlouqueci,
Por não saber lidar com a sorte,
Não sei se quero o que vi,
Se quero simplesmente a morte.

Talvez aquilo que me dás,
Seja uma teia que teces,
Seja o amor que não mereces,
Quando preciso de ti.

Um dia vou ser feliz!
Voando talvez noutro céu,
Talvez pisando outro chão,
Chorando talvez noutro véu.

Mas quando isso acontecer,
Por certo não estarás perto,
Serás talvez gota de água,
Sem importância, no deserto.

o casamento

Odeio o casamento!
Não sei se é por principio,
se é por convicção,
ou resultado do vento,
que sopra neste momento,
batendo forte no peito,
bem perto do coração.

Quando alguém levanta a voz,
e me fala nesse evento,
vem-me à memoria imagens,
que me agoniam imenso
e me deixam sempre tenso.

Evento cretino e pomposo!

Pai da noiva, fraque e laço,
à pressa, mal arrumados
no guarda-fatos do sótão,
tresandam por não usados.
A última ocasião,
foi num triste funeral,
da sua amiga Tatao.
Puta bonita e vistosa,
que fazia o que ele queria,
como qualquer outra tia,
que frequentava a mansão.

O padre, um despistado,
não preparou o discurso.
Na véspera tinha abusado,
duma donzela novinha,
que era por acaso a sobrinha,
do noivo, ainda aluado.
Sonhava também com a sobrinha,
seios lindos, pele sedosa,
sexo, botão de rosa,
que desfolhara a preceito,
em noites quentes de Verão,
em tardes de Inverno, no leito.
Sempre pensou ser o único.
uma paixão quase rara.
Mas naquela pobre aldeia,
poucos eram os homens,
presentes no casamento,
que ela não cortejara.

A moça mantinha-se calma,
sabia da sua grandeza,
herdara da tia Tatão,
a magia de manter,
a chama da sedução,
constantemente acesa.
Aos machos da freguesia.
mostrava-se sempre indefesa,
tinha no quarto mil traços,
correspondentes aos homens,
que lhe passaram pelos braços.

Olhando para o decote,
da princesa do sexo,
o padre mal se continha,
lembrando o tempo que tinha,
passado com ela, sozinha,
em sua casa de campo,
onde chegara a propor-lhe,
elegê-la de rainha.

A mãe da noiva, ainda viva,
vestido comprido e chapéu,
banhou-se pela manhã,
coisa que não acontecia,
desde a morte da mamã,
tendo por causa embolia.
Perfume espanhol no regaço,
tacões finos descambados,
olhos de negro pintados,
parecia ter apanhado
dois socos bem aviados,
numa rixa sem culpados.

Após a cerimónia de igreja,
veio a cena dos beijinhos,
fotos com os convidados,
familiares e padrinhos.
Engatatões aos molhinhos,
fisgavam as solteironas,
que lutavam pelo raminho,
e mostravam estar libertas,
para provocar sensações,
criadas por posições,
nunca antes experimentadas.

Isto é o casamento!
Roupa, champanhe e comida,
guardada e escondida,
em sacos já preparados.
Sexo, batalha e leilão,
danças e coisas terríveis:
o noivo vestido de noiva,
a noiva de calcas na mão.

Odeio a instituição.
Detesto estas tristes cenas,
que alguém tornou tradição.
Basta de tanto espectáculo,
parem com a situação.
As coisas não têm sentido.
Não encontramos razão,
para isto ser mantido.
Vamos viver o amor,
sem montarmos este circo.
A tenda tem que ir ao chão.
sejamos contra isto tudo,
digamos um rotundo não!

é assim…

Quando eu te conheci,
Fiquei contigo a sonhar,
Sem tu saberes que eu queria,
Um dia poder-te falar.

Ficar contigo a meu lado,
Ficar somente a olhar,
Te acariciar quando dormes,
Poder ver-te ao acordar.

Preciso sentir-te comigo,
Gosto de te ver a sonhar,
Fico assustado por vezes,
Quando resolves pensar…

Pensar, só por pensar,
Cadeias de confusão,
Porque isto, porque aquilo,
Porque sim e porque não.

Como é bom quando me queres,
Como é bom poder-te amar,
Sem ser invadido pelo medo,
De como amanhã tu vais estar.

Ontem deste-me um sorriso,
Ontem desejaste-me amar,
Hoje quando te encontrei,
Fui obrigado a chorar.

Não senti a tua boca,
Mal toquei na tua mão,
Abracei-te só em sonho,
Pensei em dizer-te não.

É assim: eu já te amo.
É assim: não digo não,
Mas quero sempre sentir,
O calor da tua mão.

brincar contigo

foto: Ana Luísa Moreira (www.olhares.com)
Brincar contigo,
É encontrar,
Uns olhos lindos,
Sempre a brilhar.

Brincar contigo,
É poder estar,
À tua espera,
P’ra te falar.

Brincar contigo,
É poder ser,
Muito feliz,
Sempre ao te ver.

Brincar contigo,
É saber dar,
Uma carícia,
Ao acordar.

Brincar contigo,
É esperar,
Sempre por ti,
Para te amar.

Quando chegares,
Se tu quiseres,
Eu estou à espera,
Para brincar…

noite

A noite passa devagar,
mesmo quando a conseguimos encurtar.
As estrelas, ainda presentes
parecem cansadas, ao apagar.
Naquela noite, não conseguiram brilhar.
O suficiente,
o necessário,
o indispensável,
à noite ser noite.
Noite escura e tranquila,
repousante e penetrante.
Noite, verdadeiramente noite,
daquelas que, mesmo sem sono
adormecemos,
embalados por sonhos
que o dia tornou realidade.
E quando isto acontece,
a noite aparece devagar!
Pé ante pé, não despertando o sonho,
acabado de acordar.
As estrelas, essas, não se cansam de brilhar.
Não sabendo bem porquê,
conseguiram que a noite,
voltasse a ser noite.
Noite, verdadeiramente noite.
noite escura e tranquila,
repousante e penetrante,
daquelas que não dá vontade de chorar.

desencontro

Por uma noite,
eu te senti.
Por uma noite,
vi teu olhar.
Por uma noite,
eu naveguei,
Nas ondas lindas
do teu mar.

Depois
(não sei porquê),
fugiste.
Senti-te,
um pouco atormentada,
talvez marcada,
algo perdida,
quem sabe até,
comprometida,
por provocar,
coisa mentida,
e não ser capaz
de a mudar.

Tentei achar,
um teu sinal.
Deixei mensagem,
num jornal.
Pedi à lua,
teu paradeiro,
te procurasse,
o dia inteiro,
seguisse até ao infinito,
para poderes
ouvir meu grito,
e resolvesses,
enfim,
voltar.

Voltar, de novo,
sem qualquer medo.
Compartilhar,
o meu segredo,
daquela noite de luar.

E numa noite,
quando chegares,
quero sentir,
o brilho bom do teu olhar.
E nessa noite,
quero ouvir
a tua voz a sussurrar.
Mais uma noite,
quero fazer
bater de novo o coração,
e no fim,
roubo-te um beijo,
para poderes ter a coragem
de me dizer enfim, que não.

princesa

Sabes Princesa,
Eu existo!
Talvez num reino
Onde as coisas simples,
Não sejam importantes para ti.
Um reino
Onde as mulheres imponentes e belas como tu,
Sabem colher rosas devagar.
Sem qualquer pétala machucar,
Sem qualquer lágrima chorar,
Mesmo que,
Um dia se possam arranhar.
Não desistem!
À mais bela flor, querem chegar.
Essas mulheres,
Quando o sol se esconde,
Correm para o rio da Saudade,
Banham-se com água de humildade,
E buscam constantemente a verdade.
Verdade que tu sempre tiveste,
Que sempre esteve perto de ti.
Talvez numa outra dimensão,
De difícil compreensão,
Mas verdadeira!
De percurso sinuoso,
Mas normal!
De irrefutável Transgressão,
Mas real!
Real, como real é a tua realeza!
Real, como real é esta minha certeza,
Que existo,
Como tu,
Minha doce Princesa…

nota-se muito?

Adoro-te!
Nota-se muito?
Não sei se sei disfarçar.
Talvez mudando o discurso,
Poderei passar sem notar.

Espero dizer o que sinto,
Sem ser preciso falar,
Mas sempre que isso acontece,
Não consigo disfarçar.

Podia não falar contigo,
Para não vires a reparar,
Mas se calhar, mais depressa,
Irias acabar por notar.

Adoro-te!
Nota-se muito?
Não quero mais disfarçar,
Talvez não dizendo nada,
Acabes por acreditar.

3.2.09

terramoto

(por solicitação do fotógrafo André Cássio, retirei a sua foto que ilustrava este poema)


Um terramoto varreu ontem
A minha vida!
Despedaçou sentimentos,
Esmagou momentos.
Apagou palavras ditas,
Com vontade.
Lançou lama amarga,
Tempestade,
Sobre amor vivido,
De verdade.


Chegou sem avisar,
Criou ressentimentos,
Trouxe novos pensamentos,
Deixou no ar,
Um coro de lamentos.




Hoje o dia não existiu!
A noite prevaleceu,
Por tua imposição.
O escuro roubou meu coração,
Que um dia, por acaso, pousou na tua mão.

alquimia


Queria ser alquimista,
Poder brincar com poções,
Mudar alguns corações,
Que mudaram meu destino.

Pegar em ti, transportar-te,
Para um local bem distante,
Por magia transformar-te,
Num ser algo diferente,
Daquele que num dia quente,
Me marcou amargamente,
Com o sabor doce do engano.

Terá alguém a magia,
De matar a nostalgia,
E transformar, num repente,
Alguém de quem muito gostamos,
Num ser algo diferente?

2.2.09

cumplicidades

(a pedido do autor, Sr. Pedro Rego, foi retirada a fotografia que ilustrava este poema)


Cumplicidades trocadas,
Desejos não reprimidos,
Aventuras encantadas,
É o que tenho contigo.

Contigo eu sou sempre eu,
Contigo visito o incrível,
Contigo partilho o prazer,
De ter outro alguém, contigo.

Sem ti, tenho saudades
Sem ti, não faço o que gosto,
Sem ti, cometo adultério,
Porque não fico contigo?

o amor


O amor é sexo ou emoção?
Será aquilo que aperta o coração,
Quando não estás?
Ou o que sinto
Quando estás,
E não me dás razão?
Não sei!
Vou ter que aprender!
Voltar à primeira lição!
Impor ao coração que se decida!
Pedir a alguém, explicação!
Resolver esta equação,
Com três certezas e uma condição:
Levar-te ao céu, sempre que queira;
Fazer amor na minha eira;
Criar um filho, à minha beira;
Se tu me deres a tua mão.

ausências


São histórias de encantar,
São carícias ao luar,
São sorrisos ao deitar,
São saudades ao chegar.
São preguiças ao acordar,
São cigarros sem fumar,
São beijos sem poder dar,
São cabelos por tocar.
São ausências,
São tristezas,
São solidões de assustar,
São invenções que se fazem,
Para este tempo passar.

palavras


As palavras são as mesmas,
Mas é bom dizê-las.
é bom deixá-las escorrer,
Languidamente, à beira mar;
Tranquilamente, no café;
Envergonhadamente ao telefone.
São palavras pássaro que se deixam prender,
Só para sentirem a alegria de serem libertadas.
As palavras são as mesmas!
Ditas, sentidas, escritas...
Para ti, meu amor. 

saudade


A saudade bateu-me à porta.
Assustou-me, roubou-me o sono,
E disse-me que eras tu.

Hoje gostava de estar contigo.
Sentir, tocar viver e fazer...
Amor.

Hoje não adormeci.
Pensei, sonhei, chorei, esperei...
Por ti.

Hoje tinha muito que te dizer,
Sem falar.
Tinha muito para te fazer,
Com o olhar.
Tinha muito que te ver,

A sonhar.

à espera


À espera de um sinal,
De uma estrela cadente,
De um anúncio de jornal,
De um toque diferente,
De um sorriso,
De um beijo,
De uma mão,
Só para mim.

À espera de um sinal,
De um poema perdido,
De um livro ancestral,
Do meu doce preferido,
De uma escolha acertada,
De uma princesa encantada,
De uma flor do seu jardim,
Colhida só para mim.

queria contigo sonhar...


Havia barreiras aos montes
Havia um sinal numa mão
Havia um vidro no meio
Havia o meu coração

Havia uns olhos bonitos
Havia uma linda voz
Havia o medo de ver-te
Havia uma coisa entre nós

Queria poder estar contigo
Queria contigo voar
Dar-te uma rosa vermelha
Queria contigo sonhar...

por vezes


Por vezes eu também choro,
Dá-me na alma a revolta,
De não estar sempre a teu lado
Por vezes eu também tremo
Sinto frio, dor e medo,
De me encontrar no abismo,
E só ser este o meu fado.

No auge do sofrimento,
Transformo isto num sonho!

Viajo célere no tempo,
Exorcizo o teu passado,
Ludibrio o teu presente,
Com futuro antecipado...

gostar


Lentamente
Passo a passo
Vi-te chegar devagar,
Vinhas um pouco assustada,
Vinhas com medo de dar.

Dar um pequeno sorriso,
Dar um beijo, com o olhar,
Dar um sinal, sem aviso,
Dizer que podes gostar.
Gostar como tu tão bem sabes.
Gostar, sem teres de pensar.
Gostar de sentir que eu gosto,
De ti, como só eu sei gostar.

Gosto de ti, porque sim.
Gosto de ti, porque sei.
Gosto de ti porque vi,
Que tu também sabes gostar.

acaso

Quase por acaso
Com o teu olhar,
Senti sensações,
Novas e diferentes,
Senti emoções
Fortes e brilhantes,
Criei ilusões
E cerrei os dentes.

Vi na tua mão,
Sinal como o meu.
Vi o coração,
Bater como o teu.
Arrisquei, parti,
Fui para a aventura.
Levantei o véu,
Levitei no céu,
E atingi altura...

Colhi uma estrela
De fazer verdade.
Mudei o teu nome,
Com facilidade.
Alterei o conto,
Baralhei passado,
Fui ao teu encontro,
Fiquei a teu lado...