13.8.12

nestes tempos segundos

nestes tempos
em que as noites já não chegam aos meus olhos
e somente o teu sorriso
se balança nos meus dedos
suspendo as minhas mãos
do corpo
e espero
até ouvir as tuas gargalhadas

nestes tempos primeiros

nestes tempos
em que as noites já não chegam aos meus olhos
nestes tempos
em que me descubro das sombras
que se debruçam num todo
e ocupam a minha mente alterada
nestes tempos
em que as desobediências do corpo
jazem na cama alheada
nestes tempos
de alma e escrita cansada
vivo
porque vives
e moras eternamente na minha pele
ajeitada
para te poder abraçar

2.8.12

algazarra




chamei-os a todos
anjos, fantasmas, Deus
e o diabo
vieram, encheram-me a casa
e a alma
petiscaram, beberam cerveja
fizeram apostas
no jogo que corria na televisão
não abrindo mão
de influenciar resultados.
no meio da algazarra
Deus ganhou
e o diabo desapareceu
a três segundos do fim
deixando o soalho queimado
e um terrível cheiro a amoníaco
que matou um dos fantasmas

era o meu
agora eu
posso dormir sossegado

mil ventos





o meu dormir tem mil ventos

que se enrodilham no corpo
me fazem pássaro noite
e me levam a voar
num corpo sem asas, morto

a noite tem mil estrelas
com luzes sem se apagar
mesmo que o vento que trago
lhes sopre com muitos lábios
as deixem cheias de frio
as deixem a cintilar

as mil formigas que brincam
nos dedos das minhas mãos
deixam rastos de saudade
nas estradas que elas trazem
sinais do tempo que passa
mesmo que o relógio bata
só dentro do coração

tenho tanta solidão
que me entra p’la janela
e o meu dormir tem mil ventos
que se abraçam fortes, a ela…