29.7.10

janela aberta


com a janela assim aberta
o cheiro da chuva quente
mistura-se com o teu
cheiro de mulher suada
desnudada
cansada do amor desfeito
por dedos deslizantes
e boca salivada
perdida nos teus seios abundantes

com a janela assim aberta
uma brisa propositadamente molhada
vem lamber-te a pele
adocicada
por beijos agonizantes
morrendo em instantes
como se fossem quase tudo
quase nada

com a janela assim aberta
o escuro ainda húmido
rasteja pela madrugada
cobre-te em lençol de seda
apagada
seca-te o corpo, a pele, a alma
e te adormece sobre a neblina
que também te ilumina
com luz aparente e calma

eu
te observo assim liberta
eu
te procuro em descoberta
eu
te suplico, e rezo, e peço
que deixes assim p’ra mim
a tua janela aberta

18.7.10

mudar o sentido do vento


gostava de parar o tempo
mudar o sentido do vento
para ter teu cheiro aqui
gostava de fechar os olhos
fingir ser pássaro tonto
perder-me do bando e de pronto
voar, pousar em ti
gostava de achar maré
nadar e perder o pé
no fundo da alma tua
sussurrar ao teu ouvido
palavras que tenho escondido
na sombra da minha lua
gostava de adormecer
sempre que me apetecer
com os sonhos que tu tens
deixá-los em mim reféns
sempre que anoitecer
para eu não te perder
depois, se um dia acordar
deste poema sonhado
gostava de te beijar
gostava de me afundar
nos teus braços, desvelado

13.7.10

saí de mim


saí de mim, para te ver adormecer
voei pousado no sorriso teu que imaginei
e toquei nas tuas mãos ainda acordadas
deitadas com os dedos a brincar
contando o tempo que se esgota devagar
saí de mim, e vi a tua pele serena
suspirada pela brisa morna, amena
que trouxe no meu inexistente respirar
saí de mim, e vi o teu corpo estremecido
por arrepio quase perdido
que teimou morar no teu acariciar
saí de mim, e os teus olhos brilharam
como as estrelas que te espreitaram
com ordem minha de te abraçar
com beijos, com desejos, com charadas
de palavras que foram ensinadas
a falar para te fazer sonhar
saí de mim e vim para te buscar