8.9.11

palavras escritas na janela


enquanto a terra não tremer
deixo as flores crescerem no meu quarto
e a chávena de chá esperando pelo momento
da tua mão a açucarar
deixo palavras escritas na janela
escorrendo embaciadas pelo frio
que o sopro derradeiro dos meus lábios
consegue desenhar
vejo, ainda que tenuemente
a sombra do teu corpo a chegar
deslizando pela luz
que me vem buscar
vejo, não sei se sabes
os meus pecados a passar
trazem imagens, cheiros, sabores
de coisas tuas
tão belas, agora estranhas, tão nuas
perdidas nos tempos contados
em calendários com dias escritos a bolor
deixo a dor
enterrada na cama
coberta com lençol branco
ouvindo ao longe, o pranto
dos pássaros de fogo acabados de pousar
enquanto a terra não tremer
as crianças correm no jardim
esperando ainda por mim
com bolas de sabão penduradas nos dedos
e sem medos
esperam pelo ruído calado da morte
a rebentar

2 comentários:

Ana Casanova disse...

Para mim o tema "morte" é sempre complicado...Gostei do poema e das imagens que visualizei ao lê-lo, com tanta clareza!
Um beijinho desta amiga e admiradora.

Anónimo disse...

sim, é um tema complicado mas que me seduz... tanto
obrigado Ana pelo teu apoio... beijinhos!