7.9.12

era uma vez uma aranha...

era uma vez uma aranha muito magrinha
que gostava de poesia.

instalada na biblioteca municipal
construía cuidadosamente as suas teias
nas prateleiras dos autores
com sobrenomes iniciados por P.


um dia apanhou poemas de Pessoa
lidos ternamente em voz alta
por uma velhinha mouca.
a aranha, como louca
sugou-lhes todo o miolo
saboreando delicadamente cada estrofe.

ela, a aranha, agora de óculos e gorda, escreve
e a velhinha, definha
enredada nas fiandeiras da profícua idade.

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