30.4.10
mimo, precisa-se
mimo precisa-se, quente
assunto urgente
para consumir no presente
e de preferência
com doçura e paciência
com candura e displicência
com sorrisos, beijos, gestos
que não sejam indigestos
e me deixem satisfeito
preciso mimo, ao teu jeito
perfeito
dado à noite
ao levantar
interrompendo o jantar
falado ou num tocar
sentido na tua mão
escutando no teu peito
o bater do coração
parado em cima da mesa
p’ra provar à sobremesa
ou comer às escondidas
antes de alguém chegar
e me levar outra vez
p’ra longe do teu mimar
29.4.10
uma cadeira vazia
uma cadeira fria
a alma quase vazia
parada enquanto lia
o meu pensamento esgotado
observo assustado
o teu segredo guardado
no sorriso delicado
que de ti costumo ter
tem um trago adocicado
traz um sinal arrojado
de paixão, a acontecer
numa cadeira vazia
onde está minh' alma fria
mora uma nostalgia
ansiosa por te ver
24.4.10
restos teus
os teus vazios são mortais
quando, sem licença, entram em mim
tomando conta dos bocados cheios
que ainda tenho
dos bocados dos sorrisos que guardei
das lembranças do teu corpo em espera
das palavras que me deste
e que, por idosas e cansadas
caminham devagar na minha alma
são palavras esquecidas
pela tua boca distraída
entretida em discursos sem sabor
são palavras que não ouço
devido aos silêncios que carregam
devido ao estrilho desta dor
e depois, tu
a desaparecer devagar
em mim
em ausências
em gestos que não repetes
em abraços fictícios
em bocados de nada que me atiras
com restos teus, vazios e sem uso
engolindo os poucos pedaços cheios
que, por milagre, ainda tenho
presos por um desejo moribundo
de beijos que libertem os sentidos
e me tragam de regresso a este mundo
23.4.10
mar
deitei-me nas ondas do mar
que me vieram roubar
a alma, ao corpo cansado
chegaram de madrugada
em maré pouco agitada
com água pouco molhada
para não me acordar.
ondularam devagar
tomando-me doces, nos braços
levaram-me em sal de abraços
como se fossem beijar
na pele fizeram-me traços
sinalizando pedaços
de azul para, marejar.
no peito, pesadas saudades
amarradas em vontades
que não puderam remar
arrastaram-me ao profundo
mar (o meu novo mundo)
onde fiquei a morar
que me vieram roubar
a alma, ao corpo cansado
chegaram de madrugada
em maré pouco agitada
com água pouco molhada
para não me acordar.
ondularam devagar
tomando-me doces, nos braços
levaram-me em sal de abraços
como se fossem beijar
na pele fizeram-me traços
sinalizando pedaços
de azul para, marejar.
no peito, pesadas saudades
amarradas em vontades
que não puderam remar
arrastaram-me ao profundo
mar (o meu novo mundo)
onde fiquei a morar
Etiquetas:
''vieniš(um)as - solidão'',
por eu me lembrar da morte
22.4.10
derrocada
dobram sinos de igreja em derrocada
com povos de fantasmas em retirada
arrastando pelos chãos que eu pisei
os restos de uma vida perfumada.
nas ruas dum país que inventei
acreditando que havia madrugada
jazem fartos corpos quentes que alimentei
com a minha vontade enganada
exércitos de poetas disfarçados
entrando encobertos por uma fresta
findam com a vida que ainda resta
nos pedaços dos sentidos desmaiados.
ensaiam umas danças libertinas
tocam todos desbotadas concertinas
que ensurdecem meus poemas magoados
sinto tudo, doendo-me na pele
na alma, no corpo, no sangue ainda quente
nos olhos que se fecham lentamente
ao rugido das feras tão estranhas
que sorriem de um modo indolente
e devoram-me lentamente as entranhas
17.4.10
desintegração do corpo
primeiro foram os dedos
um a um, de cada mão
caíram em ordem certa
sem sangue e sem gemidos
procurando anéis perdidos
em anos de solidão
entre o nevoeiro chegado
das cinzas de um vulcão
depois, as mãos já sem dedos
(cujo nome sem razão
deixou de existir então)
cometeram muitos actos
tentaram imitar Pilatos
mas só tinham pr’a lavar
as palmas, cheias de linhas
enredadas em ausências
de tactos para apontar
desintegrando-se aos poucos
o corpo foi-se crescendo
em tagalhos separados
cabeça, tronco e braços
as pernas sem pés amarrados
todos morrendo-se aos poucos
em pedaços, como loucos
que se entregam esgotados
um a um, de cada mão
caíram em ordem certa
sem sangue e sem gemidos
procurando anéis perdidos
em anos de solidão
entre o nevoeiro chegado
das cinzas de um vulcão
depois, as mãos já sem dedos
(cujo nome sem razão
deixou de existir então)
cometeram muitos actos
tentaram imitar Pilatos
mas só tinham pr’a lavar
as palmas, cheias de linhas
enredadas em ausências
de tactos para apontar
desintegrando-se aos poucos
o corpo foi-se crescendo
em tagalhos separados
cabeça, tronco e braços
as pernas sem pés amarrados
todos morrendo-se aos poucos
em pedaços, como loucos
que se entregam esgotados
estrela-do-mar
eu vi uma estrela-do-mar
que chorava enrolada
num mar que também era eu
caminhava abandonada
nos cinco braços da alma
que deixei atormentada
com medo da queda do céu.
em areia temperada
pelo sal que o mar perdeu
a alma foi enterrada
levou a estrela abraçada
e com ela, ela morreu
11.4.10
chei(r)os de palavras
o meu novo livro de poesia está prestes foi publicado pela CORPOS EDITORA. este livro resulta do facto de ter vencido um concurso promovido pela WORLD ART FRIENDS. convidei para fazer a nota introdutória deste novo projecto o amigo, pintor e poeta Ângelo Vaz. aqui Vos deixo as palavras que ele escreveu e que tanto significam para mim:
"nota breve
se como leitor fosse menos atento, desviava-me do título da obra e tentava entrar no seu conteúdo.
mas aconteceu o contrário, desviei-me do jogo de palavras e fiquei preso ao título tentado procurar o que não se procura, mas se encontra.
chei(r)os de palavras, perfumou minha curiosidade tentando entrar no interior do autor.
nuno guimarães tem dentro dele um laboratório de odores, um jardim de flores coloridas, prazer sexual nas palavras, saudades e sede de encontrar a vida, a morte, as inocências e o amor.
chei(r)os de palavras, é um pequeno dicionário de versos cheios de desejos que esventra o interior do autor.
poemas há que são uma catasta, em que o autor se “tortura”, em leito de amor.
as palavras, os versos, as composições dançam, flutuam, abraçam, amordaçam, choram, riem e conquistam o leitor sem o prender.
nuno guimarães dá espectáculo quando chega ou parte, deixa sempre um perfume mágico, por onde passa ou se fixa numa viagem sem tempo.
suas palavras, são um testemunho ou testamento que nos deixa.
chei(r)os de palavras, é uma enorme tela pintada, cada letra é uma cor diferente em que o autor pinta com mestria esta obra que atravessa o interior dos leitores fazendo-os embalar por mundos diversos e encontros, desencontros e…
quando este livro me apareceu, estava a ler walt whitman e ricardo campos e fiquei estupefacto em como nuno guimarães soube valorizar esta obra libertando-se de todos os cânones literários, camoneanos, pessoanos e de muitos outros.
libertei-me dos outros autores, adormeci-os na mesinha de cabeceira e embalei-me com um perfume diferente.
é uma obra que merece lugar de destaque em qualquer prateleira de biblioteca física e espiritual.
o autor libertou-se gritando bem alto, é ele mesmo e por isso, é que as suas composições têm CHEI(R)OS DE PALAVRAS..."
Ângelo Vaz
"nota breve
se como leitor fosse menos atento, desviava-me do título da obra e tentava entrar no seu conteúdo.
mas aconteceu o contrário, desviei-me do jogo de palavras e fiquei preso ao título tentado procurar o que não se procura, mas se encontra.
chei(r)os de palavras, perfumou minha curiosidade tentando entrar no interior do autor.
nuno guimarães tem dentro dele um laboratório de odores, um jardim de flores coloridas, prazer sexual nas palavras, saudades e sede de encontrar a vida, a morte, as inocências e o amor.
chei(r)os de palavras, é um pequeno dicionário de versos cheios de desejos que esventra o interior do autor.
poemas há que são uma catasta, em que o autor se “tortura”, em leito de amor.
as palavras, os versos, as composições dançam, flutuam, abraçam, amordaçam, choram, riem e conquistam o leitor sem o prender.
nuno guimarães dá espectáculo quando chega ou parte, deixa sempre um perfume mágico, por onde passa ou se fixa numa viagem sem tempo.
suas palavras, são um testemunho ou testamento que nos deixa.
chei(r)os de palavras, é uma enorme tela pintada, cada letra é uma cor diferente em que o autor pinta com mestria esta obra que atravessa o interior dos leitores fazendo-os embalar por mundos diversos e encontros, desencontros e…
quando este livro me apareceu, estava a ler walt whitman e ricardo campos e fiquei estupefacto em como nuno guimarães soube valorizar esta obra libertando-se de todos os cânones literários, camoneanos, pessoanos e de muitos outros.
libertei-me dos outros autores, adormeci-os na mesinha de cabeceira e embalei-me com um perfume diferente.
é uma obra que merece lugar de destaque em qualquer prateleira de biblioteca física e espiritual.
o autor libertou-se gritando bem alto, é ele mesmo e por isso, é que as suas composições têm CHEI(R)OS DE PALAVRAS..."
Ângelo Vaz
por eu me lembrar de ti
por eu me lembrar de ti
desenho-te com o olhar
e sorrio ao me tocar
a carícia imaginada
que na pele arrepiada
eu desejei e senti
por eu me lembrar de ti
fui à caixa dos segredos
onde encontrei tantos medos
e retirei o bilhete
com as palavras sonhadas
em noites quase apagadas
que com lápis de luz te escrevi
por eu me lembrar de ti
o perfume derramado
cheirei também com os dedos
na carta que no passado
eu julguei que recebi
por eu me lembrar de ti
a flor seca guardada
entre os poemas de amor
voltou a ganhar a cor
que dos teus olhos colhi
desenho-te com o olhar
e sorrio ao me tocar
a carícia imaginada
que na pele arrepiada
eu desejei e senti
por eu me lembrar de ti
fui à caixa dos segredos
onde encontrei tantos medos
e retirei o bilhete
com as palavras sonhadas
em noites quase apagadas
que com lápis de luz te escrevi
por eu me lembrar de ti
o perfume derramado
cheirei também com os dedos
na carta que no passado
eu julguei que recebi
por eu me lembrar de ti
a flor seca guardada
entre os poemas de amor
voltou a ganhar a cor
que dos teus olhos colhi
2.4.10
beijos no deserto
sente os beijos espalhados
que te cobrem tresmalhados
a pele sedenta de amor
imagina-te em deserto
sem água qualquer por perto
regado por meu calor
com vento forte a soprar
sente areia em nevoeiro
que te cobre o corpo inteiro
com grãos quentes a brilhar
imagina que sãos meus
dedos que se perdem nos teus
e percorrem a pele lisa
refrescada pela brisa
dos beijos alucinados
que vão morrendo cansados
nos prazeres que tu concedes
um a um, bem arrumados
em lábios que tu ofereces
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