8.6.10

silêncios

gravura de Florencia Coschignano (http://cronopiaverde.blogspot.com/)

os silêncios ocuparam-me a casa
roubaram-me espaços e engoliram os ruídos
que me faziam companhia
os silêncios pararam o relógio da cozinha
que com enorme bonomia
me ritmava com segundos sorridentes
o bater do coração
inconvenientes
os silêncios proibiram as portas de ranger
os silêncios interditaram o ruído da água a correr
e deixaram pelo chão
pegadas de solidão
que eu corro a esquecer
em vão
os silêncios são mais de um milhão

os silêncios selaram as janelas
transformando em celas
todos os lugares onde sorria
os silêncios mataram o cantar da poesia
que me acordava docemente
quando o sonho passava da noite para o dia

os silêncios esbofeteiam-me a face
molestam-me o corpo
deixam na alma uma ausência
que me enfraquece
que me enlouquece
que me envelhece
e me prepara com violência
para o fim de uma existência

6 comentários:

gabrielle disse...

«Hello darkness, my old friend
I've come to talk with you again...»


e eu, inimiga declarada do silêncio, dou comigo a entoar cantilenas cheias de nada, a abrir cofres de dilemas de coisa nenhuma, ou a chorar sorrindo às paredes que insistem em não me responder... e pergunto-me se será este o som do silêncio de que fala a canção


«"Fools", said I, "You do not know
Silence like a cancer grows
Hear my words that I might teach you
Take my arms that I might reach you"
But my words, like silent raindrops fell
And echoed
In the wells of silence»

Baila sem peso disse...

o silêncio da existência
que se escuta com turbulência...

a beleza da tua poesia
mesmo com a alma tão fria...

Beijo

Vento disse...

dizem que o silencio é ouro, sempre discordei, até há uns minutos atrás...
o silencio é morte lenta, da voz entalada na garganta
obrigada
bj

Anónimo disse...

tão tarde mas aqui estou... um beijo, Gabrielle...

Anónimo disse...

tanto tempo depois... Obrigado ''Baila sem peso'' beijo!

Anónimo disse...

obrigado ''Vento'' pela tua vinda... beijo!