anda beber-me em tragos
propositadamente pequenos
a água que tenho na boca
são os desejos serenos
deixados pelas palavras
que às vezes tu me dizes
que às vezes tu me escreves
em post-it(s) obscenos
engole-me a alma e o corpo
digere bem devagar
tudo o que tenho em segredo
tudo o que guardo, a medo
anda, vem docemente roubar
leva-me o cheiro da pele
que pões a escorrer no teu corpo
leva-me as marcas dos dedos
as carícias digitais
prolongadas em preguiças
pelos amores matinais
anda beber-me, embebeda-te
com as fomes que eu tenho
mata a sede que tu trazes
sorve as saudades que são
milhares de gotas salgadas
lágrimas de mar revoltadas
que afundam o coração