10.10.10

jantar

ao jantar
serviste-me com a sopa
sorrisos prometedores
ares de mulher convencida
com laivos de atrevida
colheradas de conversa
desinteressante, banal
vinho branco disfarçado
em goles de gargalhadas
as tuas mãos alheadas
numa toalha normal

depois, um prato escolhido
partilhado por lembranças
que foi sendo arrefecido
pelas palavras sem sal
ditas, dispersas, sem tacto
estilhaçaram-se os copos
empenaram-se os talheres
que em retirada estratégica
deixaram-se cair ao chão
como migalhas de pão
ou restos de coração
partido em mil pedaços

a sobremesa já fria
(tarte quente de maça)
veio tarde, sem magia
como a tua invernia
que puseste com mestria
naquela mesa fatal
onde o jantar foi servido
num restaurante esquecido
numa toalha normal

não houve café no fim
sobraram restos de mim
em gorjeta mal contada

1 comentário:

Jolanta disse...

This short poem reflect a human being (sometimes so complicated and hided under the easy existence). Convincente...