25.1.12

os cansaços dos sonhos



os cansaços dos sonhos
invadem-me a vontade de dormir
abrem-me os olhos com dedos férreos
e deixam-me o corpo com dores pensadas
prensadas
pelos movimentos retidos e castrados
na cama vazia do sentir
negra paralisia
que a noite deixa que se pareça com a morte

caminho descalço
para que o frio acorde a letargia pacificamente instalada
espero que, por sublimação
o cérebro arrefeça
e ajudo-o, bebendo água gelada
retirada instintivamente do frigorifico branco
adormecido na alvura da neve usurpadora das cores
que no verão se avistam da janela

sento-me, revendo a vida toda
com uma ordem escrupulosamente definida
primeiro ontem, depois anteontem
quando partiste
sábado, sexta, quinta, quarta…
todos os detalhes, todos os momentos
acumulados nas gavetas que vou abrindo dentro da memória
terça, segunda, outra vez domingo
continuo numa procura incessantemente sôfrega
e paro no jardim
do dia em que te conheci

2 comentários:

Outros Encantos disse...

... eu sei de uma letargia instalada, eu sei.
e também sei de não saber correr com ela.
estás triste.
hoje não foi o poeta que escreveu poesia, foi o poema que escreveu a pessoa do poeta.
abraço, Nuno.

Anónimo disse...

há tempos assim, ''Outros Encantos''...