5.6.12

Vilnius, 5:30 da manhã


Vilnius, 5:30 da manhã
junho, 2
importante: sábado
gente
pouca gente, a acordar
outros, muitos, a vaguear
restos de prazeres mal digeridos
álcool
prostitutas
berros
homens em algazarra
bêbados
mulheres de saltos altos
roupa bizarra
em pele molhada de suor
garrafas vazias
cheias de histórias de ódio
e de amor
e eu, sóbrio, gelado
preocupado
a ajeitar
as palavras
as imagens
as viagens
na mente
e o sol, despretensiosamente
a brilhar
indiferente ao cenário
criado
neste filme real
e eu, caminhando
evitando corpos cambaleantes
com cheiro da vodka
entornada pela noite
na garganta e na alma
corpos tropeçando
no nada
com olhos turvos, quase opacos
passos fracos
desaprendidos de caminhar

Vilnius, 5:30 da manhã
opened 24 hours
hambúrgueres americanos
digeridos
engolidos na maré
das conversas sem princípio nem fim
jornais grátis ainda ausentes
as avenidas carentes
dos afagos dos pneus
as janelas insolentes
despidas
vestidas de cortinas transparentes
as montras pacientes
esperando pelos olhos
que aconcheguem vaidades
os canteiros renitentes
a mostrarem suas flores
papeleiras resistentes
a não morrerem carregadas
de merdas não recicladas
e os pássaros, indiferentes
sem corpos estranhos no sangue
voam, cantam Vivaldi
esvoaçam primavera
num céu que ainda espera
por mais gente
acordada

Vilnius, 5:30 da manhã
junho, 2
importante: sábado!

2 comentários:

Angel Utrera disse...

Duro e real...O memso en Vilnius, que en calquera lugar...A vida a seguir nestes tempos grises sen ilusions, nin futuro. Nuno.

Anónimo disse...

abraço Angel...