18.10.12

Só um




À noite somos só um
E o silêncio do escuro
Traz o silêncio de nós.
As paredes do quarto têm de vez em quando
Os faróis dos carros que passam na rua.
Deslizam devagar até à porta
E saem
Diluindo-se no pequeno corredor
Túnel de acesso à dor
Quando me levanto.
À secretária, senta-se a solidão
Olhando-me de soslaio
E o roupeiro enorme
Não dorme
Murmura ao som das dobradiças envelhecidas
Fazendo-me partidas
Quando tento adormecer.
À noite somos só um
E o meu corpo em slow-motion
Procura espaço de lençol sem facas
Que me deixe descansar
Os meus olhos, inventam coisas para olhar
Criam fantasmas que se desviam milagrosamente
Dos automóveis que quase se despistam
Na ombreira da saída.

Só um
E o silêncio rompido por vontade de gritar
Só um
E a dor estrebuchada por vontade de fugir
Só um
E o corpo destruído pela droga do pavor

À noite somos só um
Eu, a noite e só um...

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