28.3.09

tempo

Tempo passa,
sem dar conta,
se escoa, grão a grão,
lembrando-me uma ampulheta,
que estrangula o coração.

Ano a ano, passo a passo,
o tempo anda "enloucado",
deixando marcas à toa,
no corpo já massacrado.
Tempo esquece, tempo voa,
o tempo faz-me cansado.

O tempo com um rugido,
devora plano estudado,
cospe no sonho agendado,
que me mantém acordado...
A vida perde sentido!

Tempo engana, troca voltas,
distraído, também mente.
Acordando de repente,
tenho então a certeza
(não sentindo estranheza),
que o tempo já não existe,
me abandona, desiste,
parte com leve destreza.

Pelo encurtar dos passos,
Vem-me então à consciência,
que o mundo fala em falência,
o tempo perde cadência,

“morrendo-me” assim nos braços.

26.3.09

saudade quase perdida


Cansado de correrias,
tarde o Fado adormeceu,
quando por fim encontrou,
quem por pouco ele perdeu.

Toda a noite ele a sentiu.
Ouviu um gemido na esquina,
cheirou-lhe o perfume, por perto,
correu ao encontro da sombra,
provou o sabor duma sina.

Chorou por toda a cidade,
gritou bem alto por ela,
quando por ilusão ou desejo,
viu-a sorrir, à janela.

Voou para ela, abraçou-a,
contou-lhe o segredo do Fado.
a Saudade acreditou,
beijou-o ao de leve na alma
e adormeceu a seu lado.


(poema escrito para uma talentosa fadista que me ensinou a gostar de fado...)

24.3.09

se tu fosses...


Se tu fosses uma estrela,
serias por certo a primeira,
roubava um pedaço de céu,
para estar à tua beira.

Se tu fosses uma flor,
de um jardim virtual,
“linkava-te” à Primavera
para pareceres mais real.

Se tu fosses um perfume,
com cheiro quente a canela,
trazia-te sempre comigo,
espetada na lapela.

Quando eu entrar no teu céu
e apanhar uma estrela,
vou oferecer-te uma flor,
pintada de mil e uma cor,
com perfume de canela.

17.3.09

imagino-te


Imagino-te sofrendo…
Garras do monstro
que te arranha por dentro.
Noites sem luz, varridas pelo vento.
Vozes que gemem em compasso lento,
lágrimas que escorrem em longo lamento.

Imagino-te sofrendo,
com lábios cerrados
que esmagam revoltas.
Com palavras cortadas, comidas pela dor,
a vontade apagada por vitória sem cor,
a alma queimada por um forte ardor.

Imagino-te lutando…
Moinhos de vento,
Quixote da Mancha,
cavaleiro louco que te rouba a vida.
Milagre rezado em prece sofrida,
a Vida parada em esperança contida

Não vás já embora,
espera por mim.
Não vás já agora,
que a vida é assim…
Sem dares um sinal,
se teimas partir,
vou já ter contigo,
quero
te seguir…
(para o meu amigo HP)

13.3.09

escrevo só


Escrevo só, para mim,
pensamentos e ideias.
Pinto sonhos em papel,
teço-os com minhas teias,
chego à Torre de Babel.

Escrevo, só para mim,
Palavra após palavra.
Numa insónia viciada,
prolongo a minha lavra
pela noite assim parada.

Neste poema sofrido,
Risco, corrijo, apago…
Estrofes já esquecidas,
rimas que foram perdidas,
um verso que já tinha lido.

Com sentidos em alerta,
Sinto, lembro, quase afago…
Tua pele doce e sedosa,
teus seios em tons de rosa,
teu beijo que me liberta… 


11.3.09

beijo


Beijo falso, ciumento:
dado com raiva e poder.
Para quem o vai receber,
tem sabor não desejado.
Beijo por vezes roubado,
mesmo antes de morrer.

Beijo terno, carinhoso:
tocado ao de leve na testa,
de quem chora por amor,
oferecendo uma fresta
de luz, esperança e calor.

Beijo nos lábios, sincero:
sinal duma despedida,
sem destino, sem razão,
deixando a alma perdida,
nas garras da ilusão.

Beijo sensual, erótico;
corpos que falam, que brincam
mãos que suam, mãos que abraçam,
mãos que tocam, mãos que sentem
mãos que raramente mentem,
mãos que sobre ti deslizam.