22.4.10

derrocada

foto: Helder Lopes (www.olhares.com)


dobram sinos de igreja em derrocada
com povos de fantasmas em retirada
arrastando pelos chãos que eu pisei
os restos de uma vida perfumada.
nas ruas dum país que inventei
acreditando que havia madrugada
jazem fartos corpos quentes que alimentei
com a minha vontade enganada

exércitos de poetas disfarçados
entrando encobertos por uma fresta
findam com a vida que ainda resta
nos pedaços dos sentidos desmaiados.
ensaiam umas danças libertinas
tocam todos desbotadas concertinas
que ensurdecem meus poemas magoados

sinto tudo, doendo-me na pele
na alma, no corpo, no sangue ainda quente
nos olhos que se fecham lentamente
ao rugido das feras tão estranhas
que sorriem de um modo indolente
e devoram-me lentamente as entranhas

2 comentários:

ivy disse...

não vou dizer que entendo, nem sequer fingir que percebo

vazia, triste e só, perdida em divagações e de lágrimas sempre presentes (ainda que não escorram), é assim que te leio

beijo salgado

lágrima disse...

Não vou dizer que este poema é o teu rosto, porque me habituei a vê-lo doce, sorridente e menino.
Mas digo que é simultaneamente arrepiante e belo.

Destaco particularmente a última estrofe!...

Beijo, Nuno.