22.4.12

a irracionalidade das coisas


às vezes é assim… esperamos toda a noite pelas gotas de sol que nos
molhem os olhos incapazes de fechar. depois adormecemos
lentamente, aguardando que ela, a noite, nos venha com o escuro,
acordar. sono irracional. aconchegado pelo calor do sol e pela
ausência do negro, quando a irracionalidade das coisas toma conta de
 nós. brinca com o mais ínfimo neurónio do nosso ser e conta-nos as
coisas indescritíveis da vida. aquelas em que por tão irracionais que
 são, aparecem somente desenhadas no surrealismo de telas de
 museu ou nas paredes do manicómio, cuspidas por delírios de loucos
 que se julgam Deus.

a irracionalidade das coisas é bela…
não sei de repararam nas conversas das borboletas ao luar…

a irracionalidade das coisas é tão bela…
não sei se repararam nos sorrisos das crianças, a chorar…

a irracionalidade das coisas é estupidamente bela…
não sei se repararam que o amor se esconde nos bolos de chocolate
 e de canela…

a irracionalidade das coisas é irracionalmente bela…
não sei se repararam nos números irrequietos que deslizam
 nas diagonais dos quadrados…
que irracionalidade, que loucura! escorregam em brincadeiras
 perigosas, deixando um rasto de casas decimais infinitas. usam raízes
 quadradas… como se as raízes pudessem ser quadradas… como se
fosse possível as árvores terem assim as raízes. quadradas, enterradas
 numa irracional terra cúbica rodando em torno de um irracional
paralelepípedo brilhante, o sol. estes números são completamente
 insanos. estes números são completamente irracionais. de uma
 irracionalidade tal que me deixa numa delirante escrita matemática à
procura de Fídias, Fibonacci, da razão sagrada, do número de Deus,
do divino número de ouro que me permita ficar para sempre do lado
 desta irracionalidade bela das coisas… 

(http://www.clube.spm.pt/arquivo/1126/)

4 comentários:

noName disse...

Gosto tanto deste poema, tanto!
Queria tanto levá-lo para publicar num espaço meu/nosso [é público, portanto é nosso, de todos], mas não sei se me é permitido.
É, por vezes as coisas, assim...!
Tão lindo!
Quanto mais leio os meus poetas amados, mais as palavras me ficam entaladas na garganta.
Acho que perdi a voz, desde há uns tempos atrás, diante de tanta grandiosidade.
Sou tão pequenina!

Beijo, Nuno.

Anónimo disse...

claro que podes publicar no teu / nosso espaço. será uma HONRA, ''noMar''! OBRIGADO por me leres...
beijinhos,
n.

Vento disse...

poesia e matemática, quem diria!
belissimo.

visitei também a página do clube.
parabéns.

beijinho.

Anónimo disse...

obrigao ''Vento'' que bom teres aparecido por aqui...
beijinho!