18.10.12

Era uma vez uma noz


Era uma vez uma noz
Fechada, e nada dada
A diálogos secos
Como os dos frutos da sua espécime.
Casca grossa
Rugas que não são da idade
E cabeça dura
Sábia, madura, cheia de genialidade
Resultado da idade
E de estar sempre calada.
A noz vivia sozinha
Numa cozinha
Esquecida no peitoril
De uma pequena janela.
De lá
Contemplava a ruela
Por onde nós, os amigos da noz
Passávamos
Em diálogos frescos
Muitos, sem nexo
Alguns com mistura de sexo
Como os dos animais da nossa espécime.
Dizia eu
Que a noz vivia sozinha na tal cozinha
Até ao dia em que,
Só para mostrar aos amigos
A sua virilidade,
O homem das mãos fortes
A esmagou
Expondo em cada metade
As conversas silenciosas que a noz guardou
Durante a sua virgindade.

Nós, os amigos da noz
Fizemos luto
Perdemos a fé
Perdemos a voz
Por não a termos mais
Entre nós
Calada, quieta, pensante, tão bela
Naquela
Tão pequena janela

2 comentários:

Angel Utrera disse...

precioso Nuno.....Sensibilidade pura no teu poema-conto...Gustei moito del.

Angel Utrera disse...

sensibilidade pura....gustei moito do teu poema relato, Apertas.