28.7.11

APRESENTAÇÕES DO LIVRO: ''por eu me lembrar de ti''


BRAGA

dia: 5 de Agosto, 21h 30m
local: Capítulos Soltos
Rua de Santo André, 93
telef: 253 268 308
apresentação: Paulo Themudo
participação espedial: Ângelo Vaz e Hugo Moura Vieira

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VILA DO CONDE

dia: 6 de Agosto, 21h 30m
local: Circulo Católico de Operários
Av. Dr. João Canavarro, 35
telef: 252 632 465
apresentação: Dr. Francisco Mesquita
participação espedial: Ângelo Vaz e Hugo Moura Vieira

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PORTO

dia: 13 de Agosto, 22 h
local: Clube Litarário do Porto - Porto
Rua Nova da Anfândega, 22
telef: 222 089 228
apresentação: Prof. Pedro Baptista
participação espedial: Ângelo Vaz e Hugo Moura Vieira

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LISBOA

dia: 18 de Agosto, 18 h
local: Sociedade de Língua Portuguesa
Rua Mouzinho da Silveira, 23
telef: 213 573 204
apresentação: Prof. Delmar Maia Gonçalves e Doutor Renato Epifânio
participação espedial: Vera Novo Fornelos, Teresa Maria Queiróz e Ângelo Vaz


EDIÇÃO: Corpos Editora (World Art Friends)

27.7.11

Матрешка (Matrioshka)


a solidão
deixou-se riscar por giz de luz
trazidos pelos céus
em noite de tempestade
e agitou-se com a tormenta
estremecendo ao imaginar-se
tendo companhia

traços de mulher
(iluminados por relâmpagos
numa janela teórica da vida)
em ousadia

a solidão momentaneamente sentiu-se cheia -
uma lua
enterrada na intempérie
sentiu-se estranha -
uma criança
amedrontada pelos monstros
que lhe mordiam o sossego
com ruído

olhos de mulher
(iluminados por relâmpagos
numa janela teórica da vida)
em fantasia

a solidão refugiou-se
dentro da solidão
que tinha dentro de si
escondida
uma solidão pequenina

Матрешка*
(iluminada por relâmpagos
numa janela teórica) da vida
vazia


* Матрешка - Matrioshka

25.7.11

se a chuva de ontem não voltar


sabes, acho que prefiro a solidão
prefiro perceber todos os ruídos
que roem as coisas paradas da casa
prefiro ver o pó que se acumula
por detrás das portas
e os livros espalhados por estantes velhas
numa desordem que não me incomoda
numa desordem que ordenadamente conheço
prefiro ver as borboletas da noite
suicidando-se queimadas contra a luz do candeeiro solitário
que resta na minha rua adormecida
prefiro os sussurrares eléctricos do frigorifico
em orgasmos cúbicos de gelo
que bebo derretido na Coca-Cola
sempre que o calor me consome
a meio da noite
a meio do sonho
prefiro o silêncio que me alimenta a loucura
e me deixa os ouvidos vazios de palavras
prefiro adormecer quando me apetece
estender-me atravessado na cama
e na vida
trocando-lhe os sentidos
enganando-a com o relógio que desconta o tempo

se a chuva de ontem não voltar
acho que prefiro a solidão para ficar a morar

aquela dança


aquela dança
aquela única dança
foi o lento despir do amor que o vestia
aquela dança
aquela última dança
onde o tempo se tornou equação
de matemática infinita
onde os dois corpos
pintados de escuridão
deslizaram esmagando a alma
desprotegida
recolhida
num canto pejado de multidão
aquela última dança
que o deixou sozinho
com um sorriso disfarçado
e uma lágrima furtiva
escorrendo no passado

e a música
morria devagar
completamente destroçada
por aquela última dança
violentamente roubada

conta-me uma história...


- conta-me mais uma história
conta-me por favor
fala-me de coisas lindas
fala-me talvez de amor
ou da lua que adormece
nos braços de um céu maior
- tenho uma história escondida
que tu conheces de cor
vive em mim, quase perdida
chama-me às vezes querida
outras vezes de flor
- outras, ouvi murmurar
que tu eras princesa
de um reino feito a fingir
imaginado por mim
quando estou a transgredir
as normas da sanidade...
- e eu? deixo-me enlouquecer...
fecho os olhos da idade
sinto a alma a morder
os desejos de te ter
de ser esta noite a lua
e em ti adormecer
fazendo-me história tua

21.7.11

beijos-caramelo



às vezes o virtual visita-me
chega tentador, em corpo de mulher
e instala-se na minha pele
com um sorriso lindo
faz-me cócegas com as palavras que me diz
passeia os dedos que me parecem reais
pelo cabelo
para depois me roubar tesouros
que tenho escondidos nos olhos
apontando-me ao peito
a arma mortífera da saudade

fica por aqui
e deixa-me gastar tempo real com ela
falando de coisas pequenas sem importância
e, às vezes
da importância das pequenas coisas
que concluímos serem quase sempre virtuais

hoje trouxe também beijos com sabor a caramelo
que repeti à colherada
gulosamente
derretendo-os na boca
fundindo-os depois nos sonhos
que adoçarão as minhas horas de dormir

às vezes o virtual visita-me
em corpo de mulher
sorriso lindo
e beijos com sabor a caramelo
fica por aqui, por pouco tempo
como a Cinderela
sai antes da meia-noite, a correr
e eu deixo-me morrer
de volta ao mundo das pequenas coisas
de volta ao mundo real
das coisas
muito, muito pequenas

19.7.11

flores impossíveis




existem flores impossíveis
que são obviamente oferecidas
em amores, também impossíveis
girassóis ou malmequeres
rosas, tulipas ou margaridas
convenientemente amarelas
significativamente desesperadas
desesperançadas
apaixonadas
mas recusadas
permanecendo em descanso eterno
numa jarra desequilibrada
duma mesa negra, milimetricamente centrada
numa sala que permanece vazia

as flores impossíveis
às vezes chamadas de platónicas
(vá lá saber-se porquê)
giram tontas em torno do sol
amaldiçoando Diotima de Mantinea
e esperando pelo dia
que possam fenecer em paz
pétala após pétala
tombando em amarelo cada vez mais desmaiado

os amores impossíveis
desafortunados
morrem também aos bocados

11.7.11

vento


o vento parou
deixando de falar nos teus cabelos
e no jardim, acumuladas às dezenas
folhas de poemas
repousam sem poder voar
desejos teus pousados nos meus
proibidos de se abraçar

à beira rio, o vento parou
e o teu perfume encheu o ar
suspenso na inexistência de uma evaporação

parada, perdurou por tempo pequeno, a minha mão
fazendo amor na tua
com dedos entrelaçados
apertados
como se o mundo estivesse a um segundo de acabar
como se a ponte branca fosse desabar
no teu sorriso tão difícil de abandonar

o vento parou
e as últimas palavras que disseste
junto ao rio que corria devagar
adormeceram comigo
nas margens do meu ouvido
esperando por maré
que as possa acordar

3.7.11

emprestas-me então um sorriso?


- emprestas-me então um sorriso?
por tempo ilimitado?
prometo que não estrago
devolvo todo, inteiro
quando este nevoeiro
se cansar de ter-me a mim
- estranho pedido o teu
porque me pedes tu isso?
acabo de acordar
dum pesadelo lançado
por um deus que é menor
que em vez de um sorriso
deixou-me nos lábios um grito
e nos olhos traços negros
que copiados ou ditos
por certo farão chorar
- preciso só dum sorriso
para enfeitar minha face
carregada por rugas d’ alma
que deixou de ter as cócegas
que me largavam nos olhos
o brilho do meu sentir
emprestas-me então um sorriso?
daqueles que deixas fugir
quando te vejo sonhar?
- vou tentar adormecer
viajar nas utopias
que quando estou acordado
as mato, por já não as querer
flores de perfume falso
luas que falam comigo
corpos a envelhecer
princesas que estão sem abrigo
amores por acontecer
lá vou encontrar um sorriso
lindo mas esquecido
por um desgosto qualquer
e em vez de te emprestar
trago-o preso nos dedos
porque to quero oferecer

utopias


uma após outra
colecciono utopias
selos, moedas, porta-chaves
e pacotes de açúcar
de onde pacientemente retiro
o conteúdo
deixando utopias vazias
imagens de cidades, peixes, caravelas
sonhos, desejos e amores
impossíveis
embalagens desprovidas
de vontades de adoçar

estou sentado


escolhi uma música triste
e sentei-me
pus em mim uma roupa triste, negra
e sentei-me
deixei entrar as minhas memórias de ti
e sentei-me
esperei, cinzento
por um milagre
que mudasse a cor do meu dia
e sentado
a alma foi escurecendo aos poucos
pela música triste que escolhi
pela roupa triste que vesti
pelas memórias de ti
que descuidadamente
deixei entrar dentro de mim
a alma escurecendo aos poucos
engoliu o teu sorriso
que teimava em espreitar
nos meus olhos escuros
eles, sentados
esperavam cansados pelos teus
olhos claros
esperançados
em mudar a cor sombria
sentada no meu dia

2.7.11

namoro



- porque não dormes?

- porque namoro a lua
e talvez o sono se ausente
sentindo a falta tua
- descansa, eu estou aqui
e mesmo que não me vejas
fui eu que deixei a lua
pousada à tua janela
com um sorriso despido
em iluminada cratera
- em luar, tenho os teus braços
que me envolvem agora
dois desabotoados astros
enchem os meus sentidos
em exercícios perdidos
que entontecem desejos
são os teus seios sonhados
que me chegam em bocejos
vontades de muitos beijos
vem lua, vem pousa em mim
deixa-te transbordar
como se estivesses bem cheia
- descansa, que chego já
o sol está quase a acordar
entrego-lhe a chave do céu
apanho uma curta boleia
e deslizo no seu despertar