23.10.11
a última cena
no exato momento de fechar os olhos
a chuva inundava o meu corpo
submergindo a pele
e afogando os dedos que esboçavam ainda
vontade de viver
aos poucos, afundaram-se os anos
e em segundos de sufoco
os estilhaços da memória
espalharam-se em redor da alma
alumiando-lhe o destino
refletindo os pedaços de amor agonizante
que chegaram outrora a arder no coração
os cães chegaram sem latir
e lamberam as feridas ressequidas do desgosto
homens, todos de negro, limpavam o mijo
dos corvos que voavam em espirais concênticas
imitando furacões com nome de gente
a gente, carregando os ossos do passado
e a carne apodrecida daqueles que nunca quiseram morrer
chorava
aquela chuva ainda morna
que inundava o corpo
e me confortava os farrapos dos sentidos
em luta por sobreviver
Deus pintava a cena
em tela imaculada de luz
sem sofrer
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