30.1.13

a mulher de papel


A mulher de papel
dobrava-se facilmente
cabendo perfeitamente
num pequeno envelope
dentro da carteira que ele trazia
junto ao coração.

A mulher de papel
tinha muitas letras
espalhadas pelo corpo
fragmentos de notícias
cortadas aleatoriamente
de modo a ter
cabeça, tronco e membros
e um chapéu lindo
com a previsão do tempo
e as temperaturas que farão amanhã

A mulher de papel
andava sempre admirada
com um O maiúsculo na boca
dois olhos minúsculos
desenhados com a mesma letra
e uns seios pequeninos
que eram pontos finais
em notícia de polícia.

A mulher de papel
era apaixonada, arrebatada, apalavrada
e feita de jornal.

1 comentário:

Lou Salomé disse...

Nuno, gostei imenso deste poema. Parabéns!
Visite o meu blogue, novinho em folha, e faça-se membro. Eu reciprocarei!
Um abraço, com a minha admiração