As palavras invadem constantemente o espaço que habito.
Instalam-se por aqui, sorrateiramente,
aproveitando fraquezas,
há muito transformadas em mito.
Usam ardilmente a ocasião,
pulverizam com tristezas
o ar que as acolhe com bondade,
mas pelo peso (lei da gravidade),
acabam espalhadas pelo chão.
Uns dias tropeço nelas, outros não.
Tomam formatos estranhos,
povoam cantos parados,
encarnam alguns objectos,
importantes, mas pouco usados.
Por vezes são sons e cheiros
que perfumam meus sentidos,
trazendo sinais inteiros,
ou partes de tempos idos.
São livros empoeirados,
são bilhetes de cinemas,
são fragmentos de temas,
um dia abandonados.
São caixas cheias de tralhas,
algumas contêm gralhas
e acidentes da vida.
Quando as abro, voam sonhos,
pousam na alma vazia,
compondo, em aparência,
uma séria sinfonia.
Uns dias são sonhos negros,
de movimento medonho,
outros dias, muito "allegros",
de som solene e risonho.
Num lugar especial,
estão as saudades VOSSAS,
abraçadas entre si.
Recordam mil coisas nossas;
são sorrisos em papel,
são memórias imprimidas
e experiências vividas,
permanentes e aqui.
São brinquedos que transporto,
sempre na minha bagagem,
são bocadinhos de ti,
que levo p'ra cada porto,
quando ando de viagem.