peça por peça
fragmentando cada tempo que perdi
rasgando os desejos que senti
castrando as vontades que encontrei na caixa do correio
enviadas há tanto tempo por ti
desconstruo com sistematização elaborada
começando pelo telhado cor de vidro
por onde via as estrelas que pensava serem minhas
apanhava-as à noitinha
acabadas de acordar
apagava-as com os dedos molhados
cuspidos para não ficarem a brilhar
as paredes desmontadas
pelas sombras dos meus olhos
caem embaciadas
levantam nuvem de poeira
que seca as saudades
escorridas no meu peito
desconstruo, recuando na idade
lembrando quão difícil é a tabuada
cantada ao inverso, na primária
quão difícil é mergulhar numa praia
com a maré agitada
peça por peça
desencaixo
corto amarras, extirpo elos, desato nós
uso alicate, tesoura, x-ato
desconstruo a vida
com interior desacato
ofereço-a assim desmontada ao passado
2 comentários:
Muito bonito, Nuno. Quase lírico, sentido profundamente. Gostei muito!
A descontrução e desarrumação necessária para continuar a construir um caminho ...Este seu texto me fez refletir deveras ...Parabéns !!!Beijo
Susan
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