10.10.11

temporariamente



temporariamente
a brisa entrou pela janela do meu quarto
soprou os papéis que tinha na alma
baralhando a ordem e o tempo da vida
temporariamente
a casa encheu-se de imagens tridimensionais
com eixos quase reais
que trouxeram cheiros, medos e ruídos
temporariamente
ponho a mesa
e encho os copos com sumo de laranja
sem ninguém para o beber
temporariamente
engano vontades com sonhos impossíveis
abro e fecho portas como se houvesse gente a passar
sorrio com palavras que ecoam pela casa
sem bocas para as dizer
temporariamente
acendo incensos que nem chegam a arder
imagino perfumes exóticos
ainda não inventados, com as cinzas a gemer
temporariamente
conto uma história para te adormecer
num quarto que nem sequer existe
numa cadeira que balança
no cabo que atravessa a minha memória
eu, equilibrista, sem rede onde cair
temporariamente
invento princesas e dragões
invento noites com as horas todas de luz
invento passos de pés muito belos
invento flores
invento cores
invento gargalhadas enfeitiçadas
por bruxas que se fingem apaixonadas
temporariamente
invento-me aí
aqui

2 comentários:

OutrosEncantos disse...

inevitavelmente brilhante e docemente apaixonado e terno.

sempre completo
e repleto
de conteúdo.

meu beijo.

Anónimo disse...

não imaginas como fico quando leio os teus comentários... ajudas-me sempre a continuar! obrigado "OutrosEncantos"...