com papéis cheios de cor
e laços enormes escorrendo hipocrisia
se eu pudesse, roubava o natal do calendário
e todos os dias Cristo nasceria
sem ninguém saber
do ventre de uma Maria
se eu pudesse, decretava abraços como prendas
e os doces eram beijos enfeitados de canela
se eu pudesse, os três reis eram de areia
que se apagavam em tempestades
manipuladas por dedos de crianças
habituadas aos castelos duma qualquer utopia
e a estrela de Belém perdia o norte, e com sorte
caía desfeita como neve fictícia, made in China
comprada por um euro, na Rua da Alegria
se eu pudesse as renas deixavam de voar
e ao luar
ficavam em terra a ler histórias para adormecer
se eu pudesse, como protesto, não sorria
como protesto, abolorecia, como a aletria
esquecida sobre a mesa desde o ano passado
Ahhh se eu pudesse, agora, morria…