16.6.09

restos de pessoas


Aqui as madrugadas são de luz
com restos de pessoas pelas ruas
em passos arrastados por rotinas,
percorrem a cidade, almas nuas.
De mágoas e vivências contrafeitas
consomem goles de álcool nas esquinas
desfazem esperanças liquefeitas
em tragos de bebidas libertinas.

Errantes caminham em passeios
errados nos sentidos intuídos
sem pressas colidem com anseios
que turvam pensamentos contundidos.

Num banco de jardim, já adormecem
nos braços das manhãs não desejadas
transpiram os vapores que se suspendem
nas gargantas pela noite destiladas.
Esperam pela luz da madrugada
por um atempado despertar
que os carrega pegada após pegada
ao costumeiro e triste vaguear.

9 comentários:

Anónimo disse...

Um poema de índole social, mt bem retratado em palavras e imagem...

Mesmo que não queiramos, fazemos parte de uma massa indiferente à miséria humana. Convivemos relativamente bem com ela, pois já nos habituámos a estas existências em nosso redor, de forma mais ou menos inquietante...

E o Estado não é justo, a Humanidade só o é por espécie, e não por moralidade - e é aqui que reside o ser-se pessoa - e não resto de!!!...

Mt grata por aqui retratares quem mt sofre e poucas forças tem para resistir, e prosseguir, viagem...

Anónimo disse...

Acrescento só de que muitos destes 'restos' só o são num certo sentido, pela falta de dignidade humana por não terem 'um tecto, cama e roupa lavada' mas, por outro lado, alguns são dotados de uma sabedoria de vida imensa(mente) sofrida e sabem ler a natureza com uma acuidade sui generis: prevêem temporais, exteriores e exteriores - sabem quando o vento duma trovoada se aproxima e/ou quando alguém se lhes dirige de forma violenta e indelicada, assaz injusta.

Secreta disse...

Vidas tristes e vazias , de pessoas como nós.
Beijito.

clic disse...

Vidas suspensas no tempo...

PAS[Ç]SOS disse...

e sem tempo para perder
porque a vida já não corre
permanecem sem olhar, sem ver
através do tempo que morre

Zilto disse...

Poema brutal e belo.

Sobre uma realidade cruel e feia.




AbRaZo de TaNgUeRo

Marta Vasil (pseud.de Rita Carrapato) disse...

Para além de pouquíssimas instituições de solidariedade social, talvez sejam os poetas quem mais sente os "restos de pessoas".

Este poema transparece um olhar atento e um peito em angústia por uma realidade cruel daí, mas que é de todo o mundo.

Beijinho

Sonia Schmorantz disse...

Difícil para nós que temos bases e limites num mundinho limitado por paredes, portas e janelas, um canto para chamar de nosso, compreender como é a vida de quem perambula pelas ruas...
beijo

Baila sem peso disse...

Um poema que enfeita a dor
Um poema que se deita angustiado
Um poema que conhece desamor
Um poema que se sofre muita vez calado!!!!

Belo dizer este! Uma lágrima pelo ser lembrado e tão bem no fado da vida, dedilhado!!!

Beijos