31.8.10
30.8.10
asas negras
escultura de Maria Leal da Costa
que trazes dentro de ti
quero roubar-te o que sentes
e dizer-te o que senti
com elas voo por dentro
da alma que quase perdes
vou ao encontro das luzes
que tu nos teus olhos acendes
quero as tuas asas negras
rasgá-las em mil pedaços
as penas, pedir ao vento
que as leve dos teus braços
ser o teu anjo da guarda
com as asas em papel
onde pintas para mim
os teus medos a pincel
nota: poema escrito para projecto conjunto com a escultora Maria Leal da Costa, que em breve será apresentado em Portugal e Lituânia.
28.8.10
27.8.10
em Vilnius, chove!
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em Vilnius, chove!
pintam-se gotas nas namoradas
que correm lestas em saltos altos
deixando saias esvoaçadas
e homens velhos em sobressaltos
em Vilnius chove!
lavam-se as caras empoeiradas
das casas velhas e sorridentes
enquanto as ruas aperaltadas
contam histórias por entre dentes
em Vilnus chove!
por entre luzes quase apagadas
fantasmas pairam pela cidade
e amedrontam mulheres casadas
que mostram sua fragilidade
em Vilnius chove!
ficam-se cheiros indefinidos
por entre as águas em correria
são gestos frios e atrevidos
danças de inverno, em romaria
em Vilnius chove!
beijam-se bocas apaixonadas
trocam-se amores quase perdidos
e nas esquinas arredondadas
faltam palavras, escorrem gemidos
em Vilnius chove!
em Vilnius chove!
em Vilnius chove!
e eu sem abrigo...
26.8.10
bandos (voo XIII)
escultura de Maria Leal da Costa
bandos são os meus dedos
voando sobre o teu corpo
procurando lugar certo
para carícias pousar
depois
bandos de beijos, arribam
como água no deserto
e com a boca por perto
com sede de te beijar
escorrem-se mimos a rodos
que se juntam quase todos
no teu secreto lugar
nota: poema escrito para projecto conjunto com a escultora Maria Leal da Costa, que em breve será apresentado em Portugal e Lituânia.
voo altivo (voo XII)
escultura de Maria Leal da Costa
voar sereno e altivo
como o de um gavião
traz as asas do meu sonho
arredadas do meu corpo
pousadas com ar tristonho
paradas, em hibernação
nota: poema escrito para projecto conjunto com a escultora Maria Leal da Costa, que em breve será apresentado em Portugal e Lituânia.
25.8.10
voo na tua cintura (voo XI)
voo na tua cintura
com asas de aventura
em tango dançado em Paris
num carrossel de loucura
rodopiando em ternura
com a alma de aprendiz
tenho o corpo em tontura
agarro-me à tua cintura
mulher nua
em Paris
deixas-me a pele em secura
bebo da tua doçura
morro-me assim em bravura
sábado à noite, sem lua
num tango perdido
em Paris
nota: poema escrito para projecto conjunto com a escultora Maria Leal da Costa, que em breve será apresentado em Portugal e Lituânia.
com asas de aventura
em tango dançado em Paris
num carrossel de loucura
rodopiando em ternura
com a alma de aprendiz
tenho o corpo em tontura
agarro-me à tua cintura
mulher nua
em Paris
deixas-me a pele em secura
bebo da tua doçura
morro-me assim em bravura
sábado à noite, sem lua
num tango perdido
em Paris
nota: poema escrito para projecto conjunto com a escultora Maria Leal da Costa, que em breve será apresentado em Portugal e Lituânia.
namorados (voo X)
quatro asas
quatro penas
cumpridas em celas pequenas
que existem no coração
são desencontros passados
de fogosos namorados
que voam amedrontados
sobre quatro doces pecados
de amor, em combustão
nota: poema escrito para projecto conjunto com a escultora Maria Leal da Costa, que em breve será apresentado em Portugal e Lituânia.
22.8.10
anoiteço devagar
hoje anoiteço nos teus braços
esperando pela lua
que quase nua
olha-se nos teus olhos
ficando envergonhada a brilhar
hoje vou respirar
a brisa que tu me dás nos teus lábios
em bocadinhos de beijos
em pedacinhos de amor
soprados às escondidas
temperando este calor
hoje, vou arrepiar-me com as palavras
que tu tens em pensamento
hoje, as estrelas (porque sou céu)
escorrem-se doces pelo vento
refrescando os meus sentidos
desmaiados num momento
hoje, por uma janela em quadrado
entrou um poema assinado
onde encontrei em três versos
o teu sorriso em pecado
hoje, encarcerado
numa fotografia tua
anoiteço devagar
esperando pela lua
21.8.10
singularidades
singularidades
são as linhas do destino
perdidas da tua mão
um gancho do teu cabelo
prendendo riscos no chão
o teu sorriso enlevado
à cabeceira da cama
esperando por um beijo
que o acenda como chama
o chá preto, não bebido
que entornaste n’almofada
fruto de sonho agitado
possuindo a madrugada
singularidades
são a tua roupa espalhada
compondo no quarto uma tela
o bater do coração
como chuva na janela
são as preguiças contidas
no teu corpo como cela
são as imagens finais
esquiçadas na memória
desgarradas de palavras
e procurando uma história
19.8.10
lágrimas
lágrimas, são pedacinhos de alma que escorrem
quando está escuro
são sentidos confundidos feridos pela saudade
são gotículas de orvalho condensadas
na superfície gelada das palavras que tu dizes
ou que não dizes
deixando que o inverno tome conta do meu peito
percorrem rugas de expressão triste
em enchentes transbordantes de lembranças
e inundam a face sedenta de um sorriso
lágrimas são de sal
sabem a sal, quando as provo nos teus lábios
são de mar, trazidas por vento forte na alma da maresia
são pérolas alinhadas em enfeites de catarse
e são por hoje a minha companhia
15.8.10
fado de um tango só
dancei o fado contigo
deixei o tango em sentido
às portas da minha alma
assobiando, atrevido
imitando, destemido
as cordas duma guitarra
cantei o fado contigo
até se apagar a lua
o tango, como castigo
fez do sol um condenado
roubando o brilho dourado
das pedras da minha rua
ouvi o fado contigo
numa Lisboa a chorar
desaguando no Tejo
pedindo pr´o tango cantar
tocar guitarra e dançar
como era seu desejo
dancei tango com um fado
de um modo apaixonado
que Lisboa, convenceu
cantei um fado com tango
deixei Gardel conquistado
por este pecado meu
11.8.10
tremo
foto: Hilton Pozza (www.olhares.com)
tremo
com estrondo d’ árvore
a cair na floresta
tremo
com o passar do comboio
numa estação já deserta
tremo
com o frio glaciar
que a morte tem no olhar
e com as palavras desfeitas
pousadas no teu chorar
tremo
com um poema abatido
a tiro de ilusão
tremo
com a alma calada
bebendo ensanguentada
as lágrimas do coração
tremo
com o ruído escondido
do silêncio caminhando
deixando marcas no chão
tremo quando está escuro
e abraço a solidão
tremo quando fecho os olhos
na praia dos pensamentos
esperando inseguro
pelo mar dos sentimentos
8.8.10
os silêncios vão chegando devagar
os silêncios vão chegando devagar
como invernos de ausências, se abeirando
são despojos perfumados esquecidos
são cigalhos dos carinhos se queimando
nos monólogos que ecoam, enlouquecidos
os silêncios são canções que se perderam
nas sete notas de vida
são flores que sorrindo definharam
com sedes sequiosas de alguém
são os ecos de alguns voos solitários
movimentos sem trajectos temerários
são cuspidelas de tempo, em desdém
são também, pó de conversa acumulado
varrido em noites longas, apagadas
fragmentos de palavras adocicadas
sílabas em fatias já cortadas
relógios com horas desencontradas
achados nos enredos das madrugadas
os silêncios vão saindo das gavetas
outrora repletas de saudades
são as portas que se abrem sem gemer
são paredes que arranham sem doer
e a alma que se está a transformar
num silêncio que me chega devagar
anoiteço devagar
foto: Mario (www.olhares.com)
hoje anoiteço nos teus braços
esperando pela lua
que quase nua
olha-se nos teus olhos
ficando envergonhada a brilhar
hoje vou respirar
a brisa que tu me dás nos teus lábios
em bocadinhos de beijos
em pedacinhos de amor
soprados às escondidas
temperando este calor
hoje, vou arrepiar-me com as palavras
que tu tens em pensamento
hoje, as estrelas (porque sou céu)
escorrem-se doces pelo vento
refrescando os meus sentidos
desmaiados num momento
hoje, por uma janela em quadrado
entrou um poema assinado
onde encontrei em três versos
o teu sorriso em pecado
hoje, encarcerado
numa fotografia tua
anoiteço devagar
esperando pela lua
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