8.2.09

o casamento

Odeio o casamento!
Não sei se é por principio,
se é por convicção,
ou resultado do vento,
que sopra neste momento,
batendo forte no peito,
bem perto do coração.

Quando alguém levanta a voz,
e me fala nesse evento,
vem-me à memoria imagens,
que me agoniam imenso
e me deixam sempre tenso.

Evento cretino e pomposo!

Pai da noiva, fraque e laço,
à pressa, mal arrumados
no guarda-fatos do sótão,
tresandam por não usados.
A última ocasião,
foi num triste funeral,
da sua amiga Tatao.
Puta bonita e vistosa,
que fazia o que ele queria,
como qualquer outra tia,
que frequentava a mansão.

O padre, um despistado,
não preparou o discurso.
Na véspera tinha abusado,
duma donzela novinha,
que era por acaso a sobrinha,
do noivo, ainda aluado.
Sonhava também com a sobrinha,
seios lindos, pele sedosa,
sexo, botão de rosa,
que desfolhara a preceito,
em noites quentes de Verão,
em tardes de Inverno, no leito.
Sempre pensou ser o único.
uma paixão quase rara.
Mas naquela pobre aldeia,
poucos eram os homens,
presentes no casamento,
que ela não cortejara.

A moça mantinha-se calma,
sabia da sua grandeza,
herdara da tia Tatão,
a magia de manter,
a chama da sedução,
constantemente acesa.
Aos machos da freguesia.
mostrava-se sempre indefesa,
tinha no quarto mil traços,
correspondentes aos homens,
que lhe passaram pelos braços.

Olhando para o decote,
da princesa do sexo,
o padre mal se continha,
lembrando o tempo que tinha,
passado com ela, sozinha,
em sua casa de campo,
onde chegara a propor-lhe,
elegê-la de rainha.

A mãe da noiva, ainda viva,
vestido comprido e chapéu,
banhou-se pela manhã,
coisa que não acontecia,
desde a morte da mamã,
tendo por causa embolia.
Perfume espanhol no regaço,
tacões finos descambados,
olhos de negro pintados,
parecia ter apanhado
dois socos bem aviados,
numa rixa sem culpados.

Após a cerimónia de igreja,
veio a cena dos beijinhos,
fotos com os convidados,
familiares e padrinhos.
Engatatões aos molhinhos,
fisgavam as solteironas,
que lutavam pelo raminho,
e mostravam estar libertas,
para provocar sensações,
criadas por posições,
nunca antes experimentadas.

Isto é o casamento!
Roupa, champanhe e comida,
guardada e escondida,
em sacos já preparados.
Sexo, batalha e leilão,
danças e coisas terríveis:
o noivo vestido de noiva,
a noiva de calcas na mão.

Odeio a instituição.
Detesto estas tristes cenas,
que alguém tornou tradição.
Basta de tanto espectáculo,
parem com a situação.
As coisas não têm sentido.
Não encontramos razão,
para isto ser mantido.
Vamos viver o amor,
sem montarmos este circo.
A tenda tem que ir ao chão.
sejamos contra isto tudo,
digamos um rotundo não!

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