O logaritmo perdeu toda a razão que lhe vinha dos antepassados gregos ao envolver-se com a chaveta, menina solteira vinda de outro planeta onde os números se contam ao contrário.
Perdeu toda a sua base de sustentação e a potência que o caracterizava, foi-se por expoente abaixo.
Fez mil e um malabarismos, caiu em sofismas baratos, mas o amor exponencial, rebentava na sua infinita alma, deixando-lhe o coração ocupado em equação, cuja resolução, sabia ser praticamente impossível.
A chaveta ria, com aquele ar inocente, de garota indecente, colocando um biquinho nos lábios, como que beijando quem passa.
Dentro dela, um grupo quase infinito, elementos estranhos que por vezes se entretinha a colocar em desenhos.
Com conjuntos mais chegados fazia reuniões, e por intercepções sucessivas, achava os elementos comuns, que depois, com ela, passavam noites e noites em escandalosas aventuras matemáticas.
O logaritmo enlouquecia com as brincadeiras da sua apaixonada.
Ela, amuada, virava-lhe costas, e o biquinho que tanto o exponenciava, voltava-o para a direita, deixando o seu pretendente, a contemplar a concavidade vazia do seu corpo.
Pensou mesmo em suicidar-se, mudar de base, renunciar a tabelas, atirar-se para debaixo de um comboio carregado de funções inversas.
E assim se foram afastando em incompatibilidades profundas.
Ele recolhido em estudos avançados, estrela de congressos variados, frequentando mestrados, investigando novas teorias, perdendo as alegrias, ganhando alergias à teoria dos conjuntos desadequados.
Ela, em brincadeiras depravadas, sucessivas, com amigos mais ousados, fazia operações perversas, com raciocínios complicados, até ao dia em que um conjunto vazio lhe apareceu no resultado.
Aí, a chaveta desfez-se em lágrimas, perdeu a graça, envelheceu em processo complexo, ficou como um parêntese desconexo, sem aquele apêndice adjacente que organicamente a fizera tão atraente.
Numa noite desesperada, sentou-se a ver TV.
De Oslo, já madrugada, ele ali estava perfeito, em directo, com ar algo circunspecto, o seu logaritmo perdido, de Nobel agora nas mãos.
Em discurso emotivo, apresenta teorema, em rima, como um poema, defendendo, inovador, o
princípio do amor, nos conjuntos infinitos.
NOTA: Desafio lançado pelo
Clube de Matemática ao qual respondi com um gosto muito especial atendendo à minha formação mais virada para as ciências do que para as letras. Neste exercício mensal, pretendo, de alguma forma, ''casar'' a Matemática com a Poesia... vamos ver no que dá...